sábado, 24 de outubro de 2009

" Problema de Aprendizagem": Um Distúrbio Específico

(Bzuneck)

Todos os alunos, mesmo os mais brilhantes, têm dificuldade em aprender algum conteúdo,
em alguma ocasião. Quando um aluno que em geral vai bem nos estudos apresentar algum
problema, a explicação dessa dificuldade pode comumente estar em causas de curta duração e
controláveis, como doença temporária, falta de interesse por algum tópico específico, ou sobrecarga de trabalho em outras matérias. Entretanto, alguns alunos apresentam de modo consistente algum problema para aprender, e não existe nenhuma razão aparente para essa dificuldade. Se tal problema persistir por um período de tempo, o aluno poderia chegar a ser classificado como portador de “problema de aprendizagem” (learning disability, ou LD). Se é verdade que isso acontece em muitas áreas, também existe pouca discordância quanto ao fato de que esse distúrbio realmente existe. O problema está na especificidade.

Definição. Uma das maiores controvérsias na área de problemas de aprendizagem reside na
definição correta dessa condição. Em artigo recente, Hammill (1990) revisou nada menos que onze diferentes definições de problemas de aprendizagem, e mostrou as semelhanças e diferenças entre elas. Sua definição preferida é esta:
“Problemas de aprendizagem” é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de
distúrbios manifestados em dificuldades significativas na aquisição e uso da atenção, da fala,
da leitura, da escrita, do raciocínio, ou em capacidades matemáticas. Tais perturbações são
internas ao indivíduo, e supõe-se que se devam a disfunções no sistema nervoso central,
podendo ocorrer ao longo de todo o curso da vida. Problemas nos comportamentos autoreguladores, na percepção social, e interação social podem existir junto com os problemas de
aprendizagem, mas eles mesmos não constituem um problema de aprendizagem. Embora tais
problemas de aprendizagem possam ocorrer simultaneamente com outras condições limitadoras (por exemplo: deficiências sensoriais, retardo mental, perturbação emocional séria) ou com influências extrínsecas (como diferenças culturais, ensino insuficiente ou inadequado), eles não são resultado dessas condições ou influências.

Como o próprio Hammill aponta, o elemento que todas as definições guardam em comum é que
todo aluno portador desse problema de aprendizagem apresenta sub-rendimento escolar. Em geral, esse sub-rendimento é definido ou como uma discrepância entre as diferentes matérias escolares (por exemplo, matemática versus leitura), ou entre uma medida de capacidade (como teste de QI) e o desempenho. Além disso, a maior parte das definições de problemas de aprendizagem exclui uma variedade de fatores (diferenças sócio-econômicas e culturais, baixa motivação, ensino fraco) para explicar ou contribuir para a sua ocorrência. Finalmente, há um crescente consenso de que tal problema é de alguma forma relacionado com o funcionamento do sistema nervoso central, embora ainda não seja claro como e porque isso aconteça.

Um outro tópico importante relacionado com esse distúrbio diz respeito às abordagens corretas de ensino que os professores devem usar para ajudar esses alunos a atingir seu máximo potencial. Existe uma literatura em expansão sobre esse assunto, que trata tanto de práticas em sala de aula como de treinamento em determinadas áreas: aumentar as capacidades de resolver
problemas, diminuir a impulsividade, e melhorar o relacionamento com os colegas. Gage e Berline (1991) apresentam uma série de ações que os professores podem adotar para lidar em sala de aula com alunos portadores de problemas de aprendizagem: uma observação cuidadosa do aluno em contextos diversos; comparar esse aluno com outros para apurar quão atípico é o seu comportamento; uma série de passos para determinar se o aluno deveria ser encaminhado para uma possível educação especial, e algumas sugestões para desenvolver e implementar para ele um plano educacional individualizado. A suposição geral da maioria dos autores é que o aluno com esse problema de aprendizagem permanecerá integrando uma classe regular, cabendo ao professor adaptar seu ensino a esta forma de diversidade.

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"O objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida”



(Durkheim)