sábado, 24 de outubro de 2009

A construção do conhecimento na escola

(Cesar Coll)


A concepção construtivista da aprendizagem e do ensino organiza-se em torno de três idéias
fundamentais. Em primeiro lugar, o aluno é o último responsável por seu próprio processo de
aprendizagem. É ele quem constrói o conhecimento e nada pode substitui-lo nessa tarefa. A
importância dada à atividade do aluno não deve ser interpretada tanto no sentido de um ato de
descoberta ou de invenção, como no sentido de que é ele quem aprende e, sem ele, não se faz nada, nem sequer o professor pode fazê-lo em seu lugar. O ensino está totalmente mediado pela atividade mental construtiva do aluno. O aluno não é somente ativo quando manipula, explora, descobre ou inventa, mas também quando lê ou escuta as explicações do professor. Evidentemente, nem todas as formas de ensinar favorecem por igual o desdobramento desta atividade, porém sua presença é indiscutível em todas as aprendizagens escolares, inclusive as que podem surgir do ensino direto ou expositivo.

Em segundo lugar, a atividade mental construtiva do aluno é aplicada a conteúdos que já
possuem um grau considerável de elaboração, ou seja, que são o resultado de certo processo de
construção em nível social. Praticamente a grande totalidade dos conteúdos que constituem o núcleo das aprendizagens escolares são saberes e formas culturais, que tanto os professores como os alunos encontram em boa parte elaborados e definidos. O conhecimento educativo é, em grande parte, como destaca Edwards (1987), um conhecimento preexistente a seu ensino e aprendizagem na escola. Os alunos constróem ou reconstroem objetos de conhecimentos que de fato estão já construídos. Os alunos constróem o sistema da língua escrita, porém esse sistema já está elaborado; os alunos constróem as operações aritméticas elementares, porém estas operações já estão definidas; os alunos constróem o conceito de tempo histórico, porém este conceito faz parte da bagagem cultural existente; os alunos constróem as normas de relação social, porém estas normas são as que regulam normalmente as relações entre as pessoas; e assim com quase todos os conteúdos escolares, quer se trate dos sistemas conceptuais e explicativos, que configuram as disciplinas acadêmicas, das habilidades e destrezas cognitivas, dos métodos ou técnicas de trabalho, das estratégias de resolução de problemas, ou dos valores, atitudes e normas.

Em terceiro lugar, o fato de que a atividade construtiva do aluno seja aplicada a alguns conteúdos de aprendizagem preexistentes, que já estão em boa parte construídos e aceitos como saberes culturais, antes de se iniciar o processo educativo, condiciona o papel que o professor está
chamado a desempenhar. Sua função não pode limitar-se unicamente a criar as condições ótimas
para que um aluno desenvolva uma atividade mental construtiva rica e diversa; o professor tentará, além disso, orientar e guiar esta atividade, com o fim de que a construção do aluno se aproxime de forma progressiva do que significam e representam os conteúdos como saberes culturais. Nas palavras de Resnick (1989, p. 2), o ensino deve obrigar estes processos [os processos de construção de conhecimento dos alunos], com o fim de que dêem lugar a um conhecimento verdadeiro e potente: verdadeiro, no sentido de descrever corretamente o mundo ou de descrevê-lo corretamente de acordo com as teorias de uma disciplina, e potente, no sentido de ser duradouro e de poder utilizá-lo em situações diversas. Deste modo, a tomada em consideração da atividade construtiva do aluno obriga a substituir a imagem clássica do professor como transmissor de conhecimentos, pela do professor como orientador ou guia; porém, o fato de que os conhecimentos a serem construídos estejam já elaborados em nível social o convertem em guia um tanto peculiar, já que sua função é encadear os processos de construção do aluno com o saber coletivo culturalmente organizado.

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"O objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida”



(Durkheim)