sábado, 24 de outubro de 2009

CONTRIBUIÇÕES DO SOCIOCONSTRUTIVISMO DE VYGOTSKY E DE SEUS SEGUIDORES

O PAPEL DA LINGUAGEM NAS APRENDIZAGENS E NO
DESENVOLVIMENTO, SEGUNDO VYGOTSKY


Para Vygotsky é muito importante o papel da cultura como influência sobre como os indivíduos aprendem e pensam. A aprendizagem e o conhecimento são em grande parte influenciados social e culturalmente. Toda cognição é “situada”, ou seja, ocorre num contexto.

Precisamos especialmente compreender e atender aos contextos culturais que circundam o
conhecimento da criança e que afetam de modo significativo suas expectativas sobre seus papéis
como aprendizes. Cada criança traz consigo conhecimentos e um conceito de aprendizagem
adquiridos em sua família e do seu legado cultural. A cultura propicia ferramentas (palavras,
convenções, símbolos etc.) com as quais o conhecimento é mediado e comunicado.

Vygotsky acreditava que a linguagem individual, que foi aprendida no contexto social, orienta o desenvolvimento cognitivo. Em outras palavras, a linguagem, mesmo no plano do próprio
indivíduo, sem comunicação com outros, tem importante função na formação de conceitos,
hipóteses e na resolução de problemas. O psicólogo russo também demonstrou como acontece a
transição da fala individual para a linguagem interna silenciosa.

Todos nós observamos como crianças pequenas (4 a 5 anos, por exemplo), ao montarem um
quebra-cabeças, falam sozinhas dizendo: “não vai caber aqui. Eu acho que é aqui. Não é. Então é
aqui...”. Mas, à medida que essas crianças amadurecem, sua fala autodirecionada submerge,
tornando-se um sussurro e depois movimentos labiais silenciosos. Finalmente, as crianças apenas
“pensam” as palavras orientadoras. O uso da fala individual tem seu auge entre os 5 e os 7 anos de idade, e em geral já desapareceu aos nove. As crianças mais inteligentes parecem fazer essa
transição mais cedo (Bee, 1992).

Vygotsky observou ainda a seqüência desenvolvimental. Numa primeira fase, as crianças
emitem a fala individual após uma certa ação, como se fosse um pós-pensamento. Com a
experiência, a fala passa a acompanhar a atividade (a criança faz e fala ao mesmo tempo).

Somente numa terceira fase, a linguagem precede a atividade. É aí que exerce o papel de auto-regulação, no sentido de orientar, planejar e monitorar o próprio comportamento.

Vygostsky identificou essa transição da fala individual audível para a fala interna silenciosa
como um processo fundamental. Por meio desse processo, a criança está usando a linguagem para realizar tarefas cognitivas importantes, tais como direcionar a atenção, resolver problemas, planejar, formar conceitos e ganhar autocontrole. Pesquisas confirmam as idéias de Vygotsky.

Tanto as crianças como nós, adultos, usamos mais a linguagem interna quando estamos confusos, temos alguma dificuldade ou cometemos algum erro. Tenham-se presentes os casos em que perdemos uma coisa e não sabemos onde a deixamos: como falamos sozinhos! A fala interna nos ajuda a organizar a procura, nos permite regular nosso próprio comportamento e a resolver o problema.

Duas conclusões: a fala e as aprendizagens na escola

Uma vez que a fala individual ajuda os alunos a regular seu pensamento, faz sentido permitir, e até incentivar, que eles a utilizem na escola. Insistir no silêncio total quando crianças pequenas estão trabalhando em problemas difíceis pode tornar o trabalho ainda mais difícil para elas. Você pode observar que, quando os murmúrios aumentam, isso significa que estão trabalhando
mentalmente e que, portanto, podem estar precisando de ajuda. Uma abordagem, denominada autoinstrução cognitiva, ensina as crianças a usarem a fala individual para orientarem a aprendizagem.

Por exemplo, diante da tarefa de copiarem uma figura, elas dão ordens internas para si mesmas
sobre como procederem na tarefa. Assim, elas dirão para si mesmas: "então, o que é mesmo que eu tenho que fazer? Ah! É copiar essa figura com as linhas diferentes. Eu tenho que ir devagar e com cuidado. Então, primeiro, eu vou fazer essa linha de cima para baixo. Isso! Agora, para a
direita....!” (Palincsar e Brown , 1989; Woolfolk, 2000).

Nas aprendizagens em grupo cooperativo, os efeitos dessa técnica variam, dependendo do
que realmente acontece no grupo e de quem se encontra nele. Se apenas uns poucos assumem
responsabilidade pelo trabalho, esses poucos irão aprender, ao contrário daqueles que não
participam. Os alunos que levantam questões, que fornecem respostas e que lançam explicações são aqueles que provavelmente mais aprendem, em comparação com aqueles que não levantam nem respondem a questões. De fato, há evidências de que quanto mais um aluno fornecer explicações elaboradas e refletidas para os outros no grupo, tanto mais ele mesmo aprenderá.

Dar boas explicações aparece ainda mais importante para a aprendizagem do que receber explicações (Webb e Palincsar, 1966). Para explicarem, os alunos têm que organizar a informação, exprimi-la com suas próprias palavras, pensar em exemplos e analogias (que estabelecem conexões entre conhecimentos prévios e a nova informação), e testar a compreensão ao responder a perguntas. Essas são excelentes estratégias de aprendizagem .
(Woolfolk Hoy, A,, Demerath, P. e Pape, S., 2001).


PROPICIAR APOIOS (ANDAIMES) COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO:

IMPORTANTE CONTRIBUIÇÃO DO SOCIOCONSTRUTIVISMO


O emprego de apoios/andaimes como estratégia de ensino junto aos alunos tem origem na teoria sociocultural de Lev Vygotsky e em seu conceito de zona do desenvolvimento proximal (ZDP).

Vygotsky (1978) definiu a ZDP como “a distância entre o desenvolvimento real determinado através da solução independente de um problema e o nível de desenvolvimento potencial enquanto determinado pela solução de um problema sob orientação de um adulto ou em colaboração com colegas mais capazes”. A estratégia de ensino por andaimes proporciona apoio individualizado baseado na ZDP do aprendiz. Em outras palavras, a ZDP pode ser considerada uma ferramenta de ensino para os professores.


Vygotsky originalmente havia lançado a idéia da zona de desenvolvimento proximal como uma alternativa às maneiras tradicionais de se pensar sobre capacidade e às práticas de avaliação padronizadas, ligadas àquelas concepções, como eram os testes de inteligência. Ele defendia uma concepção holística, dinâmica e interdependente do indivíduo na sociedade. O seguinte exemplo ilustra bem sua interpretação alternativa de capacidade.
Suponhamos que tenhamos aplicado um teste de aptidão em duas crianças, do que resultou que
ambas têm a mesma idade mental de sete anos. Isto significa que as duas crianças são capazes de resolver tarefas próprias dessa idade. Entretanto, se tentarmos exigir mais dessas crianças em testes, irá surgir uma diferença essencial entre as duas, em decorrência de uma ajuda extra. Se uma delas receber questões-guia, exemplos, demonstrações, chegará a resolver facilmente itens de um teste de um nível de dois anos acima de seu desenvolvimento real. A sua colega, ao contrário, sem tais ajudas, conseguirá resolver itens apenas meio ano acima de seu nível real de capacidade.



Os apoios facilitam a capacidade do aluno de construir novo conhecimento com base em seus conhecimentos prévios. Assim, os apoios possibilitam que o aluno suba para um estádio superior. As atividades solicitadas aos alunos, nesse sistema de ensino, situam-se apenas um tanto acima do nível do que o aluno pode fazer sozinho. Outras pessoas mais capazes fornecem o andaime ou apoio de tal modo que o aprendiz pode cumprir a tarefa que não cumpriria sozinho, e assim ajudam o aprendiz através da ZDP.

Uma importante característica dos andaimes ou apoios é que eles devem ser temporários. Na medida em que o aprendiz aumente suas capacidades, os apoios proporcionados pelos outros serão gradualmente retirados. Podem ser retirados justamente porque “o aluno terá esenvolvido sistemas cognitivos mais sofisticados numa determinada área de conhecimento” (Vygostky). Isto é, no fim, o próprio aprendiz será capaz de completar as tarefas por si mesmo. Nesta altura, o novo degrau que o aluno tiver atingido representa o patamar em relação ao qual surge nova ZDP, para receber novos desafios e novas formas de apoio. Entretanto, todo(a) professor(a) deve ter como objetivo, ao usar de apoios, conduzir o aluno a se tornar um aprendiz independente e auto-regulado, capaz de resolver problemas por si próprio.

Vista de outro ângulo, a ZDP é um espaço psicológico de encontro afetivo entre professor e aluno. Não é um estado fixo mas dinâmico e em contínua mutação, em função dos progressos sucessivos do aluno. Não é possível avaliá-lo diretamente por quaisquer testes, mas todo(a) professor(a) deve ter grande sensibilidade para, no contato com seus alunos, captar seu nível atual real e assim lançar tarefas com nível de desafio um tanto acima, já que com a devida ajuda será capaz de dar conta.

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"O objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida”



(Durkheim)