sábado, 24 de outubro de 2009

Crianças com Déficit de Atenção

(Charles L. Latimer, Ed.D.)

O déficit de atenção é uma condição, ou síndrome, ou distúrbio, reconhecido como um diagnóstico
psiquiátrico pela American Psychiatric Association, que possui um Manual para diagnóstico.
Essa condição pode ou não estar associada com hiperatividade, mas tipicamente envolve tanto
impulsividade como falta da devida atenção. Dependendo da gravidade da condição e do rigor dos
instrumentos de definição e diagnóstico, a incidência da síndrome se situa entre quatro e quinze por cento da população. Existem, porém, no mundo lugares em que oficialmente se nega a ocorrência da condição, e esses lugares, obviamente, relatam não haver nenhum indivíduo com tais características.

A síndrome é agora atribuída a uma anormalidade na bioquímica do cérebro, que resulta em
insuficiência ou excesso de substâncias que controlam a transmissão de impulsos neurais. Uma tendência é atribuída a fatores genético-hereditários ou a algum trauma nos processos pré-natal ou peri-natal. Nos casos mais severos uma atividade exagerada do feto tem sido relatada pelas mães durante a gravidez. Entretanto, a manifestação da condição pode ser significativamente influenciada pelo grau e pela natureza dos controles e da estrutura do lar. Crianças criadas num ambiente marcado por pouco conflito entre o casal e em que uma estrutura firme é propiciada por cuidados amorosos mas, ao mesmo tempo, bem organizados e consistentes podem demonstrar apenas leves problemas de aprendizagem e de comportamento, mesmo quando pareça haver tendências significativas de natureza biológica-neurológica. Ao contrário, crianças com apenas discretas tendências genéticas ou biológicas podem revelar notáveis problemas, caso seu desenvolvimento inicial tenha sido substancialmente marcado por desestruturação e pela ausência de um manejo e orientação adequados por parte dos pais.

Casos severos de crianças pequenas têm sido freqüentemente trazidos à atenção de pediatras,
especialmente se a mãe tem outros filhos ‘’normais’’ ou já possui experiência suficiente com outras crianças para identificar as diferenças de comportamento. Entretanto, a primeira queixa é feita tipicamente por uma professora da fase pré-escolar ou das primeiras séries. A queixa freqüentemente indicará hiperatividade, mas ainda em maior grau a desatenção, o fracasso em começar ou completar as tarefas de aprendizagem prescritas, e impulsividade. É difícil diagnosticar cedo os casos de crianças de capacidade cognitiva acima da média e que tenham sido alvo de muita atenção, assistência e estruturação por parte de pais conscientes e de professoras de uma boa escola primária. Nestes casos, o problema poderá aparecer mais claro após a 5ª. série, quando o aluno tem professores diversos, devendo enfrentar um padrão curricular muito mais complexo, e descobre que se espera dele que seja responsável pela auto-organização e auto-planejamento.

Os indivíduos com esse déficit de atenção são muito mal organizados tanto em relação às coisas
como em relação ao tempo. Sua atenção dispersa não apenas resulta em não ‘ouvirem’ os comentários, determinações e ordens que resultariam em ações imediatas como também os leva a ‘esquecerem’ o que era para fazer mais tarde. O padrão de não atender é, porém, esporádico, mais do que consistente, de tal modo que esses indivíduos são freqüentemente considerados irresponsáveis e preguiçosos pelos pais e professoras. Estes últimos acham que tais crianças podem realizar as tarefas desde que suficientemente pressionadas. E, de fato,elas o conseguem quando o assunto atrai sua atenção em um grau suficiente que elas focalizam a atenção, ou
porque num certo dia a sua bioquímica interna está funcionando muito bem, por razões desconhecidas.

Enquanto que as técnicas de modificação do comportamento podem ser eficazes com muitas crianças portadoras dessa síndrome, sem o uso de qualquer medicamento, poucos pais ou professoras mostraram ter tempo e persistência para o emprego daquelas técnicas hora após hora, dia após dia, ano após ano, sem a ajuda de medicamento para a criança (e, algumas vezes, também para os pais). Felizmente, existem hoje diversos produtos químicos que resultam em notáveis melhoras nos casos mais severos, e representam algum sucesso em cerca de 90% dos casos. Para a maioria das pessoas e com a maioria dos medicamentos, efeitos colaterais nocivos são mínimos e transitórios.

O déficit de atenção, porém, não é algo que possa ser ‘curado’. Os remédios apenas capacitarão a
criança a aprender e a ser ensinada, possibilitando que os adultos organizem suas vidas, planejem e levem adiante tarefas necessárias e mantenham relações interpessoais adequadas. Mesmo com medicamentos, a criança nessa condição precisa aprender comportamentos e gerenciar seu tempo, praticando isso a vida inteira para conseguir e manter as habilidades de enfrentamento. O déficit de atenção pode ser comparado com a diabete, nestes pontos: (a) é algo pelo que ninguém é responsável por ter, mas é responsável pela sua administração; (b) a pessoa não pode ficar livre do problema, mas pode aprender a conviver com ele e enfrentá-lo no dia-a-dia; (c) a pessoa pode precisar de medicamento e, neste caso, essa necessidade pode ser para a vida toda; (d) com os medicamentos, as habilidades de controle do comportamento e um estilo de vida
saudável, a pessoa pode ter tanto sucesso como qualquer outra. Em certas áreas, pode ter até mais êxito que os demais por causa do alto grau de energia que possui.

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"O objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida”



(Durkheim)